Se Elohim é "Deuses" no Plural e Está na Bíblia, Quem São Esses Deuses?
Como isso é possível, se a Bíblia é considerada monoteísta?
Por Mauro Mueller / Quantum Dox
Sim, Elohim está na Bíblia. Na tradução do hebraico primitivo, Elohim significa "Deuses", o plural de El, "Deus". Mas, então, como podemos estabelecer Elohim e El como o mesmo ser? Como isso é possível, se a Bíblia é considerada monoteísta? Como Elohim pode ser um Deus único, se a palavra está no plural?
Quem fez essas perguntas não fui eu. Foi Mauro Biglino, um ensaísta e tradutor italiano que, durante muitos anos, trabalhou como tradutor de hebraico, aramaico e grego para as Edições San Paolo, a editora oficial do Vaticano.
Biglino é autor de mais de dez livros e ensaios que tratam desse tema. Ele conta em suas entrevistas e nos programas em que participa que, quando era tradutor oficial, pesquisou as origens das línguas em que a Bíblia foi escrita. Em dado momento, foi descobrindo que as traduções literais de muitas palavras eram alteradas, o que transformou seu entendimento, revelando um propósito nas chamadas "Sagradas Escrituras" diferente do que conhecemos.
Neste artigo, vou me concentrar em apenas uma de suas teorias.
A Chave da Tradução: As Palavras Originais
No hebraico primitivo, EL significa DEUS. ELOHIM, por sua vez, significa DEUSES.
Mas como palavras tão importantes para as crenças de grande parte da humanidade puderam ser alteradas? Como isso afeta a imagem de um Deus criador do universo, onipresente, onipotente e onisciente? Para entender, vamos seguir o raciocínio de Mauro Biglino.
Abaixo, listamos algumas traduções diretas do hebraico primitivo:
EL – Deus
ELOHIM – Deuses
YHWH – O Tetragrama Inominável (que ficou conhecido como Yahweh)
ELYON – Altíssimo
KADOSH – Santo
ADONAI – Mestre
OLAM – Eterno
SHADDAI – Poderoso
A partir dessa lista, Mauro Biglino acredita que, em muitos casos, as traduções foram deliberadamente alteradas pelos teólogos para fundamentar a ideia do monoteísmo judaico, costurando essa narrativa ao longo dos cinco livros do Pentateuco, desde a criação até a morte de Moisés.
Analisando as Escrituras
Em seu livro “A Bíblia Não é Um Livro Sagrado” (2017), Biglino convida o leitor a usar a Bíblia que tem em casa para comparar algumas passagens, substituindo certas palavras por suas traduções literais para testar sua tese.
Vamos a um dos exemplos.
Na sua Bíblia, ao abrir o livro de Deuteronômio 32, versículo 8 e seguintes, você encontrará algo como:
“Quando o Altíssimo deu às nações a sua herança, quando dividiu toda a humanidade, estabeleceu limites para os povos de acordo com o número dos filhos de Israel. [...] Assim, só Deus o guiou, e não havia com ele outros deuses.”
Agora, se trocarmos as palavras pelas traduções originais, conforme os estudos de Biglino, a mesma passagem fica assim:
“Quando ELYON deu às nações a sua herança, quando dividiu toda a humanidade, estabeleceu limites para os povos de acordo com o número dos filhos de Israel. [...] Assim, só YAHWEH o guiou, e não havia com ele outros ELOHIM.”
Segundo o estudioso italiano, essas traduções são o resultado de profundos estudos do hebraico bíblico, compartilhados com vários acadêmicos e, inclusive, com rabinos que, embora defendam as alterações como uma forma de "composição teológica", concordam com a exatidão dos termos originais. No judaísmo, sabemos que o nome de Deus é tão sagrado que, em vários trechos, Elohim ou Yahweh são substituídos por títulos como El Kadosh, Adonai, Olam e El Shaddai.
Biglino acredita que os massoretas — escribas encarregados de preservar a tradição oral e copiar as escrituras — receberam orientações dos teólogos para consolidar o monoteísmo. Foram eles que adicionaram os sinais vocálicos ao texto hebraico (que originalmente continha apenas consoantes), padronizando a leitura da Bíblia nos chamados textos massoréticos.
Quem São os Elohim?
Levando em conta a tradução de Biglino, a teoria ganha fundamentos interessantes. A passagem sugere que Yahweh teria sido um dos Elohim, designado por uma entidade superior, Elyon, para guiar os hebreus na conquista da terra prometida. Biglino lança a provocação: Yahweh seria um dos "deuses", com a tarefa de governar o povo hebreu.
Ele reforça sua tese com outras passagens, como o Salmo 82: "Deus se levanta na assembleia divina, no meio dos deuses abre o julgamento". De acordo com a tradução literal, o versículo seria:
“Yahweh se levanta na assembleia divina, no meio dos Elohim abre o julgamento.”
Se Mauro Biglino está certo, então a pergunta permanece: quem seriam esses Elohim?
Evidências de Outro Mundo na Bíblia?
Embora Biglino evite definições categóricas, ele sugere que os Elohim poderiam ser um grupo de "colonizadores" e, em alguns de seus estudos, levanta a hipótese de que poderiam ter vindo de outros mundos.
Essa tese pode parecer ousada, mas o tradutor italiano sempre se baseia em exemplos da própria Bíblia para argumentar que não inventa nada. As traduções literais, segundo ele, são suficientes para chegar a essa conclusão.
Vejamos alguns exemplos:
A Destruição de Sodoma e Gomorra: Steven Collins, arqueólogo e reitor da Universidade Trinity Southwest, junto a sua equipe, concluiu que a energia usada para destruir as duas cidades teria sido mil vezes maior que a da bomba atômica de Hiroshima. A descoberta de um sítio arqueológico datado de 1650 a.C., com objetos vitrificados por calor extremo, corrobora a tese de que a destruição não foi causada por tecnologia da época. Chamar de "providência divina" é uma explicação que não esclarece os fatos. Além disso, por que Yahweh, sendo onisciente, precisou perguntar a Ló quantos justos havia na cidade antes de destruí-la?
Anjos ou Mensageiros Tecnológicos? A palavra hebraica para anjo, mal'akh, significa "mensageiro". O Antigo Testamento está repleto de descrições de seres incandescentes, pilotando "querubins" e "carros voadores", flutuando em nuvens e pousando em terra firme. Esses relatos descrevem objetos reluzentes, que se moviam em zigue-zague, com rodas, aros e que faziam barulho alto. Guiaram os hebreus pelo deserto com colunas de nuvem durante o dia e colunas de "fogo" (luz) à noite. Se substituirmos a palavra "anjo" por um termo que denote um ser de outro planeta, as descrições bíblicas parecem se encaixar.
Nessa linha de raciocínio, os Elohim seriam seres extraterrestres colonizando a Terra e realizando experimentos, utilizando os humanos para conquistar territórios em uma partilha feita por Elyon.
Não vou me aprofundar aqui em outras questões levantadas por Biglino, como os mistérios sobre Adão e Eva, o Jardim do Éden ou o motivo pelo qual Caim ficou apavorado de ser encontrado por "alguém" — quem, se no mundo só existiam seus pais?
Maluquices ou não, esta é a tese levantada por Mauro Biglino, um estudioso que ousou duvidar de seus superiores e foi demitido da editora do Vaticano por desafiar as traduções canônicas, apresentar ideias que divergiam da teologia oficial e, talvez, por ser um pesquisador inquieto que simplesmente fazia perguntas demais.
Gostou desses assunto? Siga-nos para explorar mais conexões: bento.me/quantumdox